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MOEEBIUS um projeto para otimização da eficiência energética

Com o objetivo de promover uma metodologia holística de otimização da eficiência energética, o projeto MOEEBIUS (Modelling Optimization of Energy Efficiency in Buildings for Urban Sustainability), financiado pelo programa europeu de investigação e inovação Horizonte 2020, poderá conduzir à diminuição das lacunas de desempenho abaixo dos 10% e reduzir o consumo energético em 35%. Um total de 15 parceiros europeus, incluindo o ISQ e a Câmara Municipal de Mafra, integram este projeto.

Reduzir o consumo energético, a emissão de gases com efeito de estufa e a dependência do exterior são atualmente prioridades da Europa. Um dos focos desta abordagem é a criação de edifícios com performances energéticas cada vez mais eficientes. Este aspeto coloca um desafio enorme não só à indústria da construção, como também ao sector energético, nomeadamente às empresas de serviços energéticos (ESE), que se vêem confrontadas com a necessidade de garantir que o desempenho energético e a poupança prevista com a aplicação de medidas de eficiência energética são realmente alcançados durante a fase de operação do edifício, sem que o conforto e a saúde dos utentes dos edifícios sejam colocados em causa.

Contudo, existem provas significativas que sugerem que os edifícios têm um desempenho inferior ao esperado, apresentando uma elevada lacuna de desempenho (performance gap), isto é, uma discrepância significativa entre os valores de consumo real e previsto, que chega a alcançar os 250%. Esta diferença é atribuída a uma variedade de fatores relacionados tanto com a performance prevista, como com a utilização do edifício, implicando que as previsões tendem a ser imprecisas. Uma solução possível passa pelo desenvolvimento de modelos preditivos que integrem de uma forma holística as diferentes vertentes do problema, contemplando as componentes física, energética e humana dos edifícios.

O MOEEBIUS (Modelling Optimization of Energy Efficiency in Buildings for Urban Sustainability) é um projeto financiado pelo programa europeu de investigação e inovação Horizonte 2020, cujo principal objetivo é o da introdução de uma metodologia holística de otimização da eficiência energética, de forma a melhorar as estratégias atuais de modelação e disponibilizar ferramentas de simulação inovadoras.

O MOEEBIUS visa captar e descrever em profundidade as complexidades da operação dos edifícios em contexto real, através de simulações precisas que reduzem significativamente as lacunas de desempenho e promovem uma otimização contínua e multifacetada da performance energética dos edifícios. Prevê-se diminuir as lacunas de desempenho para valores inferiores a 10% e ao mesmo tempo reduzir o consumo energético em 35%.

Estão envolvidos no MOEEBIUS um total de 15 parceiros europeus, entre os quais se incluem o ISQ e a Câmara Municipal de Mafra. A coordenação do projeto está a cargo da Fundação Tecnalia Research & Innovation, a principal entidade de investigação e tecnologia privada e independente em Espanha e a quinta maior da Europa.

UMA TAREFA LIDERADA PELO ISQ

O ISQ foi líder da tarefa 2.2 do MOEEBIUS – “New business models and associated energy management strategies” – uma atividade fundamental para garantir o estabelecimento de uma abordagem focada na perspetiva do negócio. Esta tarefa incidiu no desenvolvimento de modelos de negócios inovadores para ESE e para agregadores de resposta à procura. Estes modelos de negócios estão alinhados com as necessidades dos stakeholders e visam ultrapassar as barreiras que atualmente limitam a implementação destes projetos, ao mesmo tempo estabelecendo um ambiente eficiente energeticamente e preservando integralmente o conforto, a saúde e as preferências dos consumidores finais.

Esta tarefa foi levada a cabo através de uma análise comparativa, que incluiu uma revisão dos modelos existentes e do status atual do mercado na Europa (com um foco específico em Portugal, Reino Unido e Sérvia – países onde os modelos de negócios serão testados), permitindo a identificação de barreiras e fatores de sucesso. Foi levada a cabo também através de questionários e entrevistas com os stakeholders e sessões de brainstorming com especialistas através de um Living Lab. Desta forma, foi utilizada uma abordagem inovadora que permitiu o envolvimento da comunidade na cocriação dos modelos de negócios.

Diversos modelos de negócios ESE são utilizados atualmente, tais como: contrato de desempenho energético (CDE), contrato de fornecimento de energia, chauffage, contrato de energia integrado e build-own-operate-transfer. Porém, devido a uma série de barreiras, estes modelos não estão ainda generalizados. A principal barreira aparenta ser a falta de consciencialização e informação acerca da complexidade do conceito ESE, levando à falta de confiança dos consumidores finais e também das instituições financeiras.

Outras barreiras incluem: barreiras legais e políticas, tais como legislação errática, falta de uma definição oficial/geralmente aceite de ESE, certificação e normas; legislação ambígua e adjudicação morosa; limitações de financiamento, como problemas com financiamento bancário, aversão a empréstimos por potenciais clientes da ESE e altos custos de transação; e também limitações do mercado e de parcerias, devido à falta de confiança por parte dos clientes e à falta de parcerias bem estabelecidas.

Iniciativas como o Investor Confidence Project aparentam ser um bom exemplo do caminho a percorrer para combater as atuais barreiras do mercado ESE, uma vez que a estandardização do desenvolvimento e medição dos projetos de eficiência energética pode possibilitar o aumento da confiança e do financiamento por parte dos bancos comerciais. Existe também a crença de que a contratação de projetos ESE por parte de entidades públicas será uma forma de aumentar a confiança dos consumidores nestas soluções.

Ao mesmo tempo, existem diferentes atores com papéis específicos, oferecendo diferentes tipos de serviços incluídos numa estrutura de modelo de negócios ESE, e os seus interesses podem ser diferentes. Os principais stakeholders envolvidos no enquadramento dos modelos ESE são os ocupantes do edifício, o facility manager, o responsável pela manutenção, o consultor de reabilitação e o agregador.

MODELOS DE NEGÓCIOS DE EMPRESAS DE SERVIÇOS ENERGÉTICOS

O principal resultado do trabalho é a proposta de quatro modelos de negócios ESE inovadores e de três relativos a resposta à procura.

Os modelos de negócios ESE desenvolvidos introduzem gestão energética baseada em CDE melhorados, um CDE baseado nas condições dos equipamentos e eficiência, uma ferramenta para aumentar a consciencialização dos ocupantes relativamente à eficiência energética e a valorização dos edifícios através da certificação energética.

As principais inovações introduzidas em cada um dos modelos de negócios desenvolvidos são as seguintes:

  • Incorporação de parâmetros de conforto e saúde como parte de um CDE. O papel da ESE consiste em assegurar não apenas elevados níveis de eficiência energética, mas também de conforto.
  • Incorporação de automação em tempo real, manutenção preditiva e identificação de oportunidades de reabilitação como parte de um CDE que visa otimizar a manutenção de equipamentos.
  • Estrutura de gamificação e acionamento comportamental para aumentar a consciencialização dos ocupantes para o consumo energético e para garantir poupanças de energia precisas.
  • “Venda” de eficiência energética através da certificação energética tendo como motivação valorizar um edifício.

Relativamente à resposta à procura, os modelos de negócios desenvolvidos incluem análise preditiva, gestão do pico de procura e um enquadramento flexível de gestão da procura para participação em mercados externos.

Seguidamente, os modelos de negócios inovadores serão validados em três locais de demonstração em grande escala, localizados em Portugal, no Reino Unido e na Sérvia e incorporando diversas tipologias de edifícios, sistemas energéticos heterogéneos e diversas condições climáticas. Os sítios-piloto portugueses incluem um complexo escolar com piscina e pavilhão desportivo e o edifício dos Paços do Concelho do Município de Mafra.

De forma a desbloquear o enorme potencial da eficiência energética e atingir as metas de poupança de energia em edifícios, é necessário adotar novos modelos de negócios para implementar projetos de eficiência energética. Prevê-se que o mercado dos serviços energéticos seja o veículo-chave para a implementação de medidas de eficiência energética e para atingir os objetivos de poupança energética nos edifícios.

A grande vantagem introduzida pelo MOEEBIUS assenta no facto de permitir às empresas de serviços energéticos efetuar previsões mais precisas de qual será o consumo energético real de um edifício após a implementação de medidas de eficiência energética, o que vai possibilitar o aumento da confiança dos consumidores finais e das instituições financeiras nos modelos de negócios ESE. Ao mesmo tempo vem oferecer soluções inovadoras para estes modelos de negócios, que vão ao encontro das necessidades reais das partes interessadas e que criam condições para alcançar uma gestão otimizada dos edifícios, aumentar a consciencialização e simplificar a complexidade do conceito ESE.

Desta forma, o projeto pretende combater as atuais barreiras à adoção de projetos ESE, criando ferramentas para que estes possam capturar o elevado potencial de eficiência energética existente nos edifícios.

Autor: Cláudia Mafra, técnica superior do departamento de energia; Ricardo Rato, gestor de projeto do Sustainable Innovation Centre

 

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