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Energia hoje e no futuro

A energia é um recurso estratégico e um elemento chave para o desenvolvimento, assumindo-se a sua existência, em quantidade e qualidade, como vital nas sociedades modernas. O grau de desenvolvimento tecnológico das sociedades é também avaliado através de parâmetros que têm como base a utilização das energias disponíveis no meio ambiente. Nessa avaliação, não é a fonte de energia utilizada a questão mais valorizada, mas sim a tecnologia aplicada para o uso dessa energia.

À utilização de energia está associado também um dos maiores constrangimentos e preocupações atuais: as alterações climáticas. Estas alterações provocam um impacto negativo na qualidade de vida das populações, sendo que a tendência atual, se não forem tomadas as ações necessárias, vai no sentido do agravamento.

Hoje é reconhecido que um aumento superior a 2 °C, relativamente às temperaturas médias registadas na era pré-industrial, fará crescer o risco de ocorrência de alterações climáticas extremas e imprevisíveis. Estima-se que, para evitar que a subida das temperaturas médias não ultrapasse os 2ºC, as emissões mundiais de gases com efeito de estufa devam estabilizar durante esta década e diminuir, relativamente aos níveis de 1990, na ordem dos 50% até 2050.

É muito difícil antever a maneira como as futuras aplicações das energias renováveis se irão desenvolver ao longo do tempo, no entanto é certo que a obtenção de energia se enquadrará num cenário de cada vez maior dificuldade, seja pela escassez dos recursos energéticos, pelas limitações tecnológicas ou pelo impacto ambiental da geração de energia. Nesse sentido, uma das formas de minorar as dificuldades em relação às fontes e geração de energia será através do investimento em investigação e desenvolvimento e no incremento de novas soluções tecnológicas, tornando a economia mais eficiente com o menor consumo de energia

Apesar de em Portugal, durante o ano de 2014, se ter verificado a menor taxa de dependência energética desde 1995, cerca de 71%, a atual dependência da União Europeia, em particular de Portugal, relativamente às fontes de energia convencionais, representa um fator de grande risco para a estabilidade, prosperidade e segurança do aprovisionamento energético. Por outro lado, a importação de energia representa uma fatura próxima dos 6 mil milhões de euros anuais.

EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NACIONAL | Um exemplo a seguir

Portugal é atualmente reconhecido internacionalmente como um exemplo a seguir em matéria de política energética. O peso das energias renováveis na produção total de energia elétrica, segundo os últimos dados disponíveis, é da ordem dos 60%, o que nos colocou, neste domínio, nos cinco melhores países entre os 29 países-membros que integram a Agência Internacional de Energia (AIE).

No que respeita a políticas de promoção da eficiência energética, a regulamentação tem evoluído muito positivamente e o Sistema de Gestão dos Consumos Intensivos de Energia (SGCIE) é um exemplo de sucesso.

O Estado português estabeleceu para 2020 objetivos bem definidos, com uma meta de redução no consumo de energia primária de 25% e, mais especificamente na Administração Pública, uma redução de 30%. Quanto à utilização de energia proveniente de fontes renováveis, Portugal está comprometido com metas de redução até 2020 de 31% do consumo final bruto de energia e de 10% no sector dos transportes. Estes são objetivos muito ambiciosos quando enquadrados no clima de crise económica que é vivido na Europa, em que se prevê uma retração do investimento nos próximos anos.

A eficiência energética é já considerada como a “energia do futuro” e é atualmente um fator diferenciador na competitividade de todas as organizações, em particular naquelas em que a energia tem um peso importante na sua estrutura de custos. De facto, as empresas não podem controlar os preços da energia, nem as políticas governamentais ou a economia global, no entanto podem melhorar a forma como gerem o consumo de energia dentro de portas.

Num futuro próximo a eficiência energética será uma área que vai captar cada vez maior investimento, afirmando-se como um importante motor na geração de emprego. É, cada vez mais, um domínio ativo na agenda mundial.

Nos últimos anos têm sido desenvolvidos esforços, através da publicação de diretivas e normas, que visam promover e garantir práticas conducentes à melhoria da eficiência energética. Os fundos europeus disponíveis para promover a transição para uma tecnologia de baixo carbono estão também em crescendo.

Segundo estudos recentes divulgados pelo World Energy Council, o potencial de melhoria da eficiência energética é de 4/5 no sector residencial e mais de metade no sector industrial. Nos próximos anos, o grande desafio para o sector industrial na melhoria da eficiência energética será a atuação ao nível dos processos industriais, através da integração e da atuação ao nível da tecnologia digital.

A indústria 4.0, considerada a quarta revolução industrial, será um enorme desafio para as ações relacionadas com a eficiência energética.

No sector dos edifícios, as diretivas europeias apontam para que em 2020 todos os edifícios novos venham a ter um balanço energético próximo do zero (Nearly Zero Energy Buildings). Apesar deste conceito já existir, vai passar a ser obrigatório, estando ainda por definir qual o grau de desempenho energético a cumprir.

O sector dos transportes, pelo peso que tem no consumo de energia final e na emissão de gases com efeito de estufa, enfrenta desafios importantes. A mobilidade elétrica será um dos maiores desafios nos próximos anos, nomeadamente pela criação de uma rede de carregamento dos veículos elétricos que garanta um carregamento sempre disponível e eficaz.

As empresas de serviços de energia são as principais promotoras de soluções que visam a melhoria da eficiência energética, muitas delas, além de estudarem e implementarem as soluções, estabelecem contratos de performance, assumindo um certo grau de risco financeiro ao investirem nas medidas de melhoria de eficiência energética, sendo remuneradas através da poupança obtida na exploração dessas mesmas soluções.

De acordo com diferentes estudos e uma estimativa realizada pelo projeto europeu ChangeBest, espera-se que o mercado de serviços de energia cresça mundialmente a um ritmo de vários milhares de milhões de euros por ano até 2030. É de importância vital a criação de modelos de negócios, com apoio financeiro, que sejam competitivos e tenham como objetivo a criação de escala nos serviços de eficiência energética.

Todavia, algumas barreiras terão de ser ultrapassadas e algumas ações poderão ter um contributo muito positivo para a obtenção desse objetivo:

  • Promoção e criação de novos modelos de negócio associados aos serviços de energia;
  • Garantia do cumprimento de obrigações legais em matéria de eficiência energética;
  • Aumento dos mecanismos e instrumentos financeiros de apoio à eficiência energética;
  • Criação de uma taxa de carbono;
  • Aumento dos benefícios fiscais para quem é mais eficiente;
  • Credibilização do mercado dos serviços de energia, através de uma monitorização e verificação eficazes, melhorando com isso a confiança entre os agentes de mercado;
  • Investimento em inovação tecnológica e em I&D.

Sendo a eficiência energética universalmente reconhecida como uma via decisiva nas mãos dos responsáveis políticos, os mesmos terão um papel fundamental que poderá determinar a remoção dos obstáculos aos investimentos em soluções de eficiência energética já existentes e, por outro lado, a aposta no desenvolvimento de atividades de investigação e desenvolvimento

As próximas duas décadas serão decisivas para assegurar um futuro energético sustentável. Há já especialistas que defendem que poderá ser necessário investir entre um terço e metade do PIB mundial para que esse objetivo possa ser alcançado.

Autor: João Pombo, responsável do departamento de energia

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